Emoção não faltou durante as filmagens do vídeo “Consertando Concertinas”, da diretora Tânia Regina Ohnersorge Dumer, em Vila Valério, no interior do Espírito Santo. A história, selecionada pela quarta edição do Revelando os Brasis, mostra como vive Lindolfo Raach, o único do estado que ainda conserta a concertina, instrumento típico da imigração pomerana e italiana em terras capixabas. A concertina – um aerofone de palhetas livres que são acionadas por meio de um fole que une os dois teclados – era fabricada na Alemanha até início da II Guerra Mundial, quando as fábricas pararam a produção. Foi a partir de então que Lindolfo ou a conhecer e a estudar o instrumento, tornando-se referência no assunto. Depois de mais de 40 anos aprendendo os segredos da concertina e de outros instrumentos como sanfona, acordeon e harmônio, ele ficou conhecido fora e dentro do estado como “Professor das Concertinas”.

Com respeito e iração pelo ilustre personagem, a comunidade de Vila Valério sentiu-se orgulhosa por fazer parte desta história e os moradores deram um brilho ainda mais especial às cenas captadas no cotidiano da pequena cidade pomerana. Tanto nas cenas feitas durante o culto luterano quanto nas imagens captadas no Festival de Concertina, os moradores aproveitaram para cumprimentar o conterrâneo por sua perseverança e dedicação à música, por seu trabalho de preservação da cultura pomerana. O vídeo mostrará as habilidades de Lindolfo e de vários outros tocadores cuja vida é dedicada à expressão musical.

Apesar dos problemas de saúde, o protagonista, aos 67 anos, esbanjou atenção e generosidade durante a gravação, o que impressionou a equipe. “Foi emocionante fazer as cenas do Senhor Lindolfo. As filmagens aconteceram de forma natural. Ele ficou feliz e realizado em poder demonstrar seu talento para todos”, conta a diretora, que conhece o personagem desde criança e que pensou nele quando resolveu se inscrever no projeto.

Estudante de Serviço Social, Tânia sempre gostou de cinema, mas este foi seu primeiro contato direto com o mundo audiovisual. Interessou-se pelo Revelando os Brasis ao assistir “Hochtijd – Casamento Pomerano”, de Jorge Kuster, do município de Vila Pavão, que participou da primeira edição do projeto com a história “Bate-Paus” sobre a perseguição sofrida pelos pomeranos e seus descendentes no Espírito Santo, durante a Segunda Guerra.

A partir das oficinas audiovisuais, no Rio de Janeiro, a diretora conseguiu vislumbrar a transformação de seu sonho em algo real. “Estou conseguindo ver cinema com outros olhos, descobrindo segredos antes desconhecidos dos filmes”, conta radiante.